Olhos nos Olhos
Ano Novo
Ficção de que começa alguma coisa !
Nada começa : tudo continua
...
...
Começar só começa em pensamento.
Fernando. Pessoa
In Poesia 1918-1930
covid - informação
Devido ao colapso do sistema de saúde, os profissionais de saúde prepararam esta mensagem para a população:
__________
◉ Os sintomas aparecem a partir do terceiro dia após a infecção (sintomas virais).
➙ 1ª fase;
◉ Dor no corpo
◉ Dor nos olhos
◉ dor de cabeça
◉ vômito
◉ diarreia
◉Pingo no nariz ou congestão nasal
◉ Decomposição
◉ Olhos ardentes
◉ Ardor ao urinar
◉ Sensação de febre
◉ Garganta arranhada (dor de garganta)
➙ É muito importante contar os dias de sintomas: 1º, 2º, 3º.
◉ Tome medidas antes do início da febre.
◉ Tenha cuidado, é muito importante beber muitos líquidos, principalmente água purificada. Beba bastante água para a garganta seca e ajudar a limpar os pulmões.
__________
➙ 2ª fase; (do 4º ao 8º dia) inflamatório.
◉ Perda de sabor e / ou cheiro
◉ Fadiga com mínimo esforço
◉ Dor no peito (caixa torácica)
◉ Aperto do peito
◉ Dor na região lombar (na região dos rins)
__________
➙ O vírus ataca as terminações nervosas;
◉ A diferença entre fadiga e falta de ar:
• _Falta de ar é quando a pessoa está sentada - sem fazer nenhum esforço - e está sem fôlego;
• Fadiga é quando a pessoa se move para fazer algo simples e se sente cansada.
__________
➙ É preciso muita hidratação e vitamina C.
__________
Covid-19 retém oxigénio, então a qualidade do sangue é mau, com menos oxigénio.
__________
➙ 3ª fase - cura;
◉ No dia 9 começa a fase de cicatrização, que pode durar até o dia 14 (convalescença).
◉ Não atrase o tratamento, quanto mais cedo melhor!
__________
➙ Boa sorte a todos!
É melhor seguir estas recomendações, a prevenção nunca é demais!
• Sente-se ao sol por 15-20 minutos
• Descanse e durma por pelo menos 7-8 horas.
• Beba 1 litro e meio de água por dia
• Todos os alimentos devem ser quentes (não frios).
➙ Lembre-se de que o pH do coronavírus varia de 5,5 a 8,5.
Portanto, tudo o que precisamos fazer para eliminar o vírus é comer mais alimentos alcalinos, acima do nível ácido do vírus.
Como;
◉ Bananas, Lima → pH 9,9
◉ Limão amarelo → 8,2 pH
◉ Abacate - pH 15,6
◉ Alho - pH 13,2
◉ Manga - pH 8,7
◉ Mandarim - pH 8,5
◉ Abacaxi - 12,7 pH
◉ Agrião - 22,7 pH
◉ Laranjas - 9,2 pH
__________
➙ Como você sabe que tem Covid-19?!
◉ comichão na garganta
◉ garganta seca
◉ tosse seca
◉ Alta temperatura
◉ Dificuldade em respirar
◉ Perda de cheiro e sabor
Um livro
não pode simplesmente distrair-nos.
É necessário um saldo final que nos comprometa com a vida.
Que nos perturbe.
Vergilio Ferreira
Conta corrente
as lágrimas por Mexia e o juíz Carlos Alexandre :
sair do ambiente viral e entrar noutra atmosfera !!!
equívocos
que abril festejam comunistas e maoistas ?
que abril festejam os que dependem da política ?
covid
a explicação de um prémio nobel
covid
outra abordagem científica :
covid
a informação serena e eficaz no japão.
terapêutica experimental com bons resultados:
- avigan
- alvesco
- kaletra
remdesivir
(embora, com mais ou menos efeitos secundários)
covid
apesar da falta de contraditório, é elucidativo . . .
sobre a pandemia covid-19
insuportável cansaço das intervenções de políticos, jornalistas, militares, cientistas de pacotilha,e das incompetentes ministra da saúde e diretora da dgs.
a vez e a voz para a (possível) verdade científica :
percurso da amizade:
um roteiro de sinceridade ... ... ... justa.
que bem que sabe no paladar do ouvido !
Francisco Sá Carneiro
(19.7.34 - 4.12.1980)
. . . eu sou do tamanho do que vejo
e não do tamanho da minha altura . . .( Alberto Caeiro )
por dentro - por fora
não feliz
bem disposto
fado&piano
Camões na boca de Camané e nas mãos de Mário Laginha
Amália
(1.7.1920 - 6.10.1999)
voz divina de uma portugalidade de outrora
mar
dar banho ao olhar
na piscina de deus.
saborear o banquete azul.
vestir a nudez
com um abraço líquido.
brindar ao laço dos corpos
na areia lambida pelo champanhe das ondas.
love story
sossego auditivo desassossego visual ...
o banal num traço de escrita elegante :
... ... ... enquanto eu, mais para lá do que para cá,
embrulhado num sonho confuso ... ... ... estendia a mão livre,
ainda não inteiramente minha, em busca das horas na cabeceira,
que é onde as deixo ao deitar-me depois de tirar o tempo do pulso ... ... ...
A.Lobo Antunes
A Última Porta Antes da Noite
ed.dquixote
.
Fernando Pessoa
13.6.1888 - 30.11.1935
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
... ... ...
... ... ...
Novas Poesias Inéditas
Ática,4ªed.1993.p.48
Agustina Bessa-Luís por A. Lobo Antunes
as vitórias na aparência e as descaradas mentiras na substância
com uma abstenção de 68,89 % ( excluídos 4,25 % de brancos e 2,68% de nulos)temos:
- PS cerca de 10% dos eleitores a favor
- PSD cerca de 6,8% dos eleitores a favor
-BE cerca de 3% dos eleitores a favor
-CDU cerca de 2% dos eleitores a favor
- CDS cerca de 1,9% dos eleitores a favor
-PAN cerca de 1,5% dos eleitores a favor
vida tão só vida tão estranha
a gente vive na mentira já não dá conta do que sente
a alma a dar sentido ao corpo :
nada pior que um espírito amputado ... ... ... não há prótese para isso
Salazar
( 28 abril 1889 - 27 julho 1970)
apesar dos pesares ... honesto, coerente , modesto, culto , inteligente ...
contra a maré negra de certos abrileiros
por dentro
preciso da alma para dar sentido ao corpo
térmicos ... elétricos ... ?
" o mundo é louco. O facto de as autoridades nos terem pedido para ir numa direção tecnológica, a do veículo elétrico, é um grande ponto de viragem. Não gostaria que daqui a 30 anos se descobrisse algo que não é tão bonito como parece, sobre a reciclagem de baterias, a utilização de matérias raras do planeta, sobre as emissões eletromagnéticas da bateria em situação de recarga? Como é que vamos produzir mais energia elétrica limpa? Como fazer para que a pegada de carbono do fabrico de uma bateria do veículo elétrico não seja um desastre ecológico? Como assegurar que a reciclagem de uma bateria não seja um desastre ecológico? Como encontrar suficiente matéria-prima rara para fazer as pilhas e os químicos das baterias na duração? Quem trata a questão da mobilidade própria na sua globalidade? Quem está agora a colocar-se a questão de forma suficientemente ampla de um ponto de vista social para ter em conta todos estes parâmetros? Preocupo-me como cidadão, porque, como fabricante de automóveis, não sou audível. .... ... ...
ti voglio tanto tanto bene sai ... ...
Carta ao Pai
.... ... ...
Tens também um sorriso particularmente bonito e que poucas vezes se deixa ver,
tranquilo, satisfeito, aprovador, capaz de deixar muitíssimo feliz a pessoa a quem se
destina. Não sou capaz de me lembrar se, na minha infância, me teria sido
expressamente reservado, mas pode ter acontecido, pois por que razão haverias de mo
ter recusado nessa altura em que eu ainda era inocente aos teus olhos e constituía a tua
grande esperança ?
... ... ... ...
Franz Kafka
moldura sonora para um certo silêncio cantado ...
estranha e inédita peregrinação interior, com frei Bento Domingues
" não vou a cemitérios porque não está lá ninguém "
citação de A.Lobo Antunes
Deus ,Visão 16.8.16
por dentro
... o que mais custa a suportar não é a derrota ou o triunfo,
mas o tédio, o fastio, o cansaço, o desencorajamento.
Vencer ou ser vencido não é um limite.
O limite é estar farto.
Vergílio Ferreira
Conta-Corrente 5
embalo da alma no refúgio do fado nosso
a maior desgraça de uma nação pobre :
em vez de produzir riqueza, produz ricos.
mas ricos sem riqueza.
na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
rico é quem possui meios de produção.
rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro.
ou que pensa que tem.
porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
... ... ... ...
Mia Couto
Pensatempos
páscoa agnóstica
na íntima procura de um " Deus " que não seja um acaso geográfico ... ... ...
tu
quantas vezes, uma forma de tratamento falsamente próxima ... ... ...
.
laços
a amizade homem-mulher pressupõe alguma antipatia física ... ... ...
por dentro
Nós
Não precisávamos de falar. Como ele dizia
– Tu sabes sempre o que eu estou a pensar e eu sei sempre o que tu estás a pensar
mas muito pouco tempo antes de morrer veio ter comigo e passámos a tarde juntos, sentados lado a lado no sofá. Foi ele quem falou quase sempre, eu pouco abri a boca.
Mostrou-me os braços, o corpo
– Estou miserável
sabia que ia morrer dali a nada e comportou-se com a extraordinária coragem do costume. Coragem, dignidade e pudor. A certa altura
– Para onde queres ir quando morreres?
respondi
– Para os Jerónimos, naturalmente.
Ficou uns minutos calado e depois
– Tu acreditas na eternidade.
Disse-lhe
– Tu também.
Novo silêncio.
– Eu quero ser cremado e que ponham as cinzas na serra, voltado para a Praia das Maçãs.
Novo silêncio. A seguir
– Vou morrer primeiro que tu. Vou morrer agora.
Mais silêncio. Eu
– Ganhei-te outra vez.
ele
– É.
Ele
Ganhamos sempre os dois.
Eu
– Porque é que a gente gosta tanto um do outro?
Ele silêncio antes de
– Se me voltas a falar de amor vou-me embora.
eu
– Sabes onde é a porta.
Mas não voltámos a falar de amor. Para quê? Estava ali todo. Depois quis ver os livros
– Para aí vinte mil, não?
eu
– Mais ou menos, incluindo os muitos que encontrei numa livraria de segunda mão, assinados por ti.
Silêncio. Eu
– Não podia suportar a ideia de que outras pessoas tivessem em casa os livros do meu irmão.
Gesto vago. Depois ele
– António
e silêncio, depois eu
– João
e silêncio. Ou seja um diálogo de amor compridíssimo. Depois
– Se os pais cá estivessem
e esta frase fez-me compreender melhor a sua imensa dor. A mãe para quem a inteligência, num homem, era a forma suprema de sensualidade. E um rabo grande a coisa mais feia deste mundo. Um homem inteligente, na sua opinião, era atraentíssimo.
– Um homem bonito e estúpido ao fim de um quarto de hora não existe
e ainda bem porque, assim, talvez tenhamos algumas chances com ela. A mãe, ainda
– Desafio qualquer mulher no mundo a ter filhos tão inteligentes como os meus.
E ele continuou a falar:
– Depois eu fui para Nova Iorque e tu para África.
Numa altura, depois de África, em que ele estava a sofrer muito meti-me num avião e fui para casa dele. Durante o dia ele trabalhava no hospital e eu ficava às voltas com o Fado Alexandrino. Depois jantávamos juntos e comíamos uns gelados enormes que ele trazia a vermos os play-offs do basquete.
Um de nós
– E jogam com humor
o que é tão raro no desporto. Aos sábados um bocado numa discoteca. Camisas cheias de baton. A certa altura olhou, do sofá, para a estante mais próxima: Um livro de Marcel Pagnol. Ele
– A nossa infância toda.
E eu com vontade de tocar-lhe. Claro que não toquei. As suas mãos, que conhecia tão bem, poisadas nos joelhos. Embora impassíveis estávamos demasiado emocionados.
Ele
– De qualquer modo não nos perdemos um ao outro
eu, depois de um silêncio compridíssimo
– Nunca nos perdemos, não é agora que isso vai acontecer.
Ele
– Vou chamar um taxi.
Silêncio.
Ele
– Acompanhas-me lá abaixo?
Entre a casa e a rua uma distância grande. Era o fim do dia, já não estava muito sol. O taxi à espera no passeio. O chofer, a quem ele operara a mãe, veio abrir-lhe a porta do carro. Ele voltou-se para mim e disse o meu nome. Eu aproximei-me dele e disse o seu. Abraçámo-nos com muita força e, de repente, começou a chorar. Só sentia ossos nas minhas mãos. Mas nada de mariquices, claro, sobretudo nada de mariquices.
Ele
– Não digas a ninguém que chorei.
E sentou-se no banco ao lado do chofer, sem olhar para mim. Não olhámos um para o outro, aliás, mas nunca nos vimos tão bem. O carro foi-se embora. Fiquei na borda do passeio até que desapareceu. E então, de mãos nos bolsos, voltei para casa. Nunca houve um abraço assim no mundo.
A.Lobo Antunes
crueldade na matriz feminina :
(uma causa para as estrelas de Hollywood e equiparadas "vitímas de assédio")
um cansaço, um nojo trágico ...
destinos (românticos) de outrora
ele deixará o escritório.
ela abandonará a escrita.
e, se deus quiser, ambos morrerão de outra fome.
por dentro ...
aprende-se, com a dor da alma, o que a felicidade não ensina
quantos silêncios
esperam ser ouvidos ?
delicadeza ...
a pontualidade é chegarmos juntos
Marcello Duarte Mathias
Brevíssimo Inventário
um pedaço de história vivida e contada assim :
não comenta ?
comentar o nada é dar-lhe existência.
um vazio assim:
Espero, espero, mas o quê ?
A embriaguez de um momento
seguida de um vazio infinito.
A minha sina foi sempre esta:
nunca matar a sede, enganá-la.
M. Torga (diário XII,coimbra, p.90 )
na verdade,
o que acontece na infância,
não fica na infância ... ... ...
amar pelos dois ...
o triunfo da melodia e do singelo,
sobre os ruídos sonoros e coreográficos !
o guia michelin é um insulto à cozinha portuguesa !
Estamos na época dos prémios e das galas. Há prémios para todos os gostos e galas para os apresentar com grande aparato. Galas para os prémios de cinema, para os prémios de literatura, para os prémios de jornalismo, para os prémios de futebol, para os prémios de restaurantes, etc. Uma fartura.
Há duas semanas realizou-se em Espanha uma gala para anunciar as estrelas Michelin 2017. Não me lembro de que as estrelas fossem anunciadas numa cerimónia pública – mas admito que tenha andado desatento. O certo é que esta gala teve para nós, portugueses, significado especial, pois vamos ter 26 estrelas Michelin no próximo ano: 5 restaurantes com duas, e 16 com uma.
Portugal encheu-se de orgulho. Mas não nos precipitemos: entre os 21 restaurantes contemplados não há um único que sirva cozinha tradicional portuguesa. Aliás, entre os 20 chefs distinguidos, há 6 estrangeiros: Benoit Sinthon, Hans Neur, Dieter Koschina, Joachim Koerper, Miguel Laffan, Willie Wurger e Sergi Arola.
Apesar de Bruno Martins dizer no último B.I. que «a identidade de cada país parece ter ganho importância aos olhos dos inspetores do Guia Michelin», eu penso exatamente o contrário. Os inspetores do Michelin desprezam olimpicamente a identidade de cada país.
Conheço alguns restaurantes premiados com estrelas e devo dizer que não guardo de nenhum deles boas recordações.
Num, serviram-me como sopa um caldo incolor com um fígado de pato a boiar. O líquido não tinha qualquer sabor e pensei que o segredo estaria no fígado. Meti-o na boca, trinquei-o, mastiguei-o, mas aquilo parecia sola de pneu. Por mais que fizesse não consegui destruí-lo. Como era um jantar de cerimónia, não podia devolver o fígado ao prato. Engoli-o então inteiro e tive uma sensação horrível: pensei que ia sufocar. Vi-me aflito – mas finalmente o fígado lá passou pela garganta, qual Cabo das Tormentas, e pude sossegar.
Noutro restaurante premiado pedi um borrego assado. Veio uma pasta apresentada como se fosse um pudim, feita numa forma, colocada no centro do prato. Julgo que era carne de borrego desfiada aglutinada com uma matéria que não identifiquei. Em cima do ‘pudim’, dois pedacinhos mínimos de borrego mal passados e um pé de hortelã a enfeitar.
Noutro restaurante de nouvelle cuisine – este não premiado – pedi um caldo verde, que aliás estranhei ver na lista. Trouxeram-me o dito, acrescentando que depois viria o chouriço. Qual não é o meu espanto quando se aproxima uma empregada com uma lata de spray na mão e deita um esguicho para dentro do prato. De facto sabia a chouriço. Mas com franqueza, um chouriço em spray…
Nestes restaurantes, antes da refeição, vem geralmente um empregado apresentar uma ‘sopa’ com grande pormenor. Após cinco minutos de conversa, põe à nossa frente um dedal – rigorosamente um dedal – com um líquido que mal conseguimos saborear mas que, de acordo com as boas maneiras, temos de dizer que é bom.
Portugal tem uma cozinha riquíssima, das melhores do mundo.
E não digo isto por patrioteirismo. Vivi em França vários períodos e conheço boa parte da Europa, estive no Japão, estive na Índia, estive no Paquistão, estive em Macau, estive na Costa Leste e Oeste dos EUA, estive no Norte de África e no Sul de África, estive no Brasil – e experimentei muitas cozinhas. E digo: a cozinha portuguesa é excecional. É muito variada – tem marisco, tem peixe, tem carne – e é muito inventiva. Basta ver as 100 maneiras de cozinhar bacalhau. Temos pratos cozidos, fritos, grelhados, guisados, assados no forno… Temos legumes que proporcionam excelentes saladas frescas. Ora, com isto, será normal que os inspetores da Michelin venham cá e só premeiem a nouvelle cuisine, a cozinha francesa, muito sofisticada mas muito menos genuína e variada do que a nossa?
É certo que são franceses – mas o Guia não pretende ser universal? Ou é um guia para franceses em viagem pelo estrangeiro?
Peço desculpa, pela afirmação, mas: o Guia Michelin é um insulto à nossa cozinha. Alguns restaurantes que conheço e servem ótima cozinha portuguesa – O Polícia, o Gambrinus, o Solar dos Presuntos ou o Pabe em Lisboa, o Porto de Santa Maria no Guincho, o Fialho, a Tasquinha do Oliveira ou o Botequim da Mouraria em Évora, a Maria no Alandroal, o Xana na Aldeia da Serra (Redondo), o Isaías em Estremoz, a Bolota na Terrugem (Elvas), o Capelo ou o Baixa-Mar em Santa Luzia (Tavira) – são pura e simplesmente desprezados pelos inspetores.
Para já não falar no Gigi, da Quinta do Lago, onde nunca fui mas que já me ofereceu inigualáveis iguarias na sua casa de Lisboa
Mas o Guia Michelin nem é bom para os franceses. Quando eles vêm cá, o que querem: conhecer a cozinha portuguesa ou comer a comida francesa que conhecem de ginjeira?
Julgo que os portugueses, em vez de exultarem com as 26 estrelas Michelin, deviam desprezar este guia – que nos despreza. Com a marca Michelin, bons só são os pneus.
J.A.Saraiva
Sol 7.12.06
por dentro
gosto de alguém em quem
" a sensibilidade se confunde com a inteligência,
para formar uma terceira faculdade da alma,
infiel às definições "
F.Pessoa
(a propósito de
Luiz de Montalvor,
fundador da editora
Ática)
.... ...... la bohême ... ... la bohême .... ....
que bem que sabe ao paladar do ouvido e da alma, assim :
e assim :
merci Monsieur Aznavour !
la musica ... la vita ... !!!
da vida e da morte ... ...
... lembro-me de ser criança e ver a minha mãe a dançar o charleston, sozinha, sem música, e eu encantado a vê-la. Era pequenina, bonita, parecia uma miúda, se íamos ao restaurante sozinhos com ela o empregado a recolher-lhe a ementa depois dela dizer o seu prato perguntava
- e para os irmãos da menina ?
Quando a minha mãe estava morta na igreja e os filhos por ali esperei que entrasse um empregado de lacinho e colete às riscas inclinando-se para o caixão
- e para os irmãos da menina ?
Mas não veio nenhum. Só gente de olhos pesados ... ... ... com apertos de mão graves e sérios, que nunca a viram dançar o charleston.
A.Lobo Antunes,Visão,18.02.16
... ... e a vida a navegar por entre o sonho e a mágoa ... ...
por dentro
... ... ... este estar onde não estou ... .... ...
por dentro . . .
Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão,
continuaremos a buscar-nos em outras metades.
Para viver a dois, antes, é necessário ser um.
Pessoa ?
um canto de Portugal Primavera
nocturno ... ... ...
Chopin
(01.3.1810 - 17.10.1849)
Miguel Torga
(12.08.1907 -17.01.1995)
... ... pego na pena com o escrúpulo com que pego no bisturi.
(...)
Não é uma boa prosa que ambiciono, mas sim uma
claridade gráfica.
Gostaria de restituir às palavras a alma que lhes roubaram, e que a língua tivesse nas minhas mãos, além da graça possivel, uma dignidade insofismável.
(...)
Que cada frase, em vez de um habilidoso disfarce, fosse uma sedução e um acto.
Uma sedução sem condescendências, e um acto sem
subterfúgios.
Para tanto, limpo-a escrupolosamente de todas as
impurezas e ambiguidades, na porfiada esperança de que
a sua claridade se veja e se entenda.
E a vejam e entendam, sobretudo, os que não são
profissionais da literatura.
(...)
Diário Vlll-1958
quem me quiser
quem me quiser há-de saber as conchas
as cantigas dos búzios e do mar.
quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.
quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.
... ... ...
António Pelarigo (Rosa Lobato Faria/José Cid)
natal sem pai natal ...
" É tão grande a diferença entre o Natal do Menino Jesus e o Natal dos Pais Natal.
É a diferença entre o sentimento e o objeto, entre a afetividade e a aquisição, entre a generosidade e o interesse.
É sobretudo, a diferença entre o despojamento da verdade anunciada e a maior operação de marketing de cada ano que passa."
José Luís Seixas
Destak, 18.12.2013
natal sem pai natal ...
com um menino jesus de encantar
agora já é tarde ...
agora nunca é tarde ...
" ... ... ... pois que nos cumpramos ao menos agora até ao fim ... ... ... "
da independência
repôr um feriado, para comemorar a restauração da independência de Portugal em 1640 face ao domínio espanhol, é necessário mas não é suficiente :
- não nos liberta do sufoco da divida e da continua mão estendida aos empréstimos ...
- não nos liberta da humilhante subserviência ao dinheiro sujo ..
- não nos liberta do "dogma" do euro ...
- não nos liberta da repetida e esmagadora partidarite ...
uma verdade contra " pulhíticos " :
"no dia em que eu abandonar o poder, quem virar os meus bolsos do avesso, só encontrará pó"
Salazar (15.08.1968)
acordem os fadistas ... ... ... .... acordem as guitarras ... ...
porque
sou do fado !!!
Golegã ... ... ...
com discreto e inédito charme
homeopatia - um caso surpreendente
carta aberta a Carlos Fiolhais
O texto assinado por si que saiu no PÚBLICO de 5 de Novembro com o título de “Ciência diluída”
deixou-me profundamente zangado: o seu ataque à homeopatia não tem pés nem cabeça, é
insultuoso, mentiroso, e demonstra uma ignorância inacreditável porque a homeopatia começa a ser
levada a sério pela medicina convencional em todo o mundo e há protocolos homeopáticos em uso e
experimentação pelos mais rígidos e incrédulos cientistas das mais perfiladas instituições académicas e hospitalares.
Houve um dia em que acordei de manhã com um alto no pescoço. Verifiquei com o meu dentista: não
tinha nada que ver com dentes. Depois fui ao meu otorrino: “O senhor tem uma massa na faringe”.
Fui fazer um TAC: era um cancro de grau IV – ou seja, letal. Metástases na cadeia linfática, etc.
Consultei vários oncologistas aqui e ali e até acolá (no estrangeiro): três a quatro meses de vida. As
armas deles, nucleares (rádio), químicas e convencionais (cirurgia), não se aplicam no meu caso,
disseram-me com grande honestidade. Só serviriam para atrasar o progresso do cancro... e para me
deixar sem maxilar, com um cateter metido na garganta para poder comer e respirar, além dos habituais vómitos, enjoos, queda de cabelo, etc.
Isto foi no final de Maio de 2012. Há dois anos e meio. Neste intervalo de tempo, escrevi e publiquei
dois romances, organizei e também publiquei uma colectânea de crónicas, tenho aqui no computador
mais dois romances acabados e um pequeno livro de contos. Passeei, fui à praia, brinquei com os
meus netos e os meus cães, fiz companhia à minha mulher, estive com amigos, escrevi sobre arte para
o PÚBLICO. Não me caiu cabelo, não tive vómitos. Em poucas palavras: tenho dois anos e meio de
qualidade de vida por cima da sentença de morte ditada pelos oncologistas da medicina oficial.
Já toda a gente que estiver a ler esta carta terá adivinhado o que vou escrever a seguir: sim, tenho sido
acompanhado pela medicina homeopática, os seus tratamentos, os suplementos alimentares que
prescreve e uma revisão radical da minha alimentação. Ninguém me prometeu milagre nenhum.
Estou vivo e activo há dois anos e meio, leu bem Doutor Fiolhais. O conselho que lhe dou é que esteja calado acerca daquilo de que não sabe nada.
Com os melhores cumprimentos
Paulo Varela Gomes (Prof. reformado da Universidade de Coimbra) - Público 8.11.2014
textos relacionados:
http://www.publico.pt/ciencia/noticia/ciencia-diluida-1675128
http://www.ionline.pt/iopiniao/assunto-pseudociencia-na-faculdade-farmacia
informações e reflexões sem o vírus da partidarite ... ... ...
tabacaria
não sou nada
nunca serei nada
não posso querer ser nada
à parte isso
tenho em mim todos os sonhos do mundo
... ... ...
acendo um cigarro ...
e saboreio no cigarro
a libertação de todos os pensamentos
sigo o fumo como uma rota própria ...
carta aberta
Ninguém me encomendou o sermão, mas precisava de desabafar publicamente. Não posso mais com
tanta lição de economia, tanta megalomania, tão curta visão do que fomos, podemos e devemos ser
ainda, e tanta subserviência às mãos de uma Europa sem valores (...).
Torga ( Diário XVI)
a " portugalidade " na boca mercenária de um "guru" da gestão ruinosa :
" quem é sujo, suja o que diz " (Torga)
da república e da bandeira
O observador imparcial chega a uma conclusão inevitável: o país estaria preparado para a anarquia; para a República é que não estava.
(...)
Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos – porque estas contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos, de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regime a que, por contraste com a Monarquia que o precedera, se decidiu chamar República.
(...)
A Monarquia havia desperdiçado, estúpida e imoralmente, os dinheiros públicos. O país, disse Dias Ferreira, era governado por quadrilhas de ladrões. E a República que veio multiplicou por qualquer coisa - concedamos generosamente que foi só por dois (e basta) - os escândalos financeiros da Monarquia.
A Monarquia, desagradando à Nação, e não saindo espontaneamente, criara um estado revolucionário. A República veio e criou dois ou três estados revolucionários.
(...)
A Monarquia não conseguira resolver o problema da ordem; a República instituiu a desordem múltipla.
(...)
E o regime está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados morais, nos serve de bandeira nacional – trapo contrário à heráldica e à estética porque duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode inventar em cor.
Está ali contudo a alma do republicanismo português – o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva de que por direito mental devem alimentar-se.
" Da República " Pessoa
... ... há, nos meus olhos, ironias e cansaços ... ... ...
interior dois
dói-me quem sou.
Pessoa
quanto fui,
quanto não fui,
tudo isso sou.
Pessoa
quando eu morrer
voltarei para buscar
os instantes que não vivi
junto do mar
Sophia
o mar é a religião da natureza
Pessoa
a diferença entre a " beleza " e a verdade :
o relatório e contas 2013 do BES
e uma parte ( apenas uma parte ... ) da verdade oculta :
do amor e da vida ...
a valsa (Camille Claudel)
do amor e da morte
quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura (3.01.1942-27.04.2014)
soneto do amor e da morte, " Antologia dos Sessenta Anos", Ed. Asa, 2002