tabacaria
não sou nada
nunca serei nada
não posso querer ser nada
à parte isso
tenho em mim todos os sonhos do mundo
... ... ...
acendo um cigarro ...
e saboreio no cigarro
a libertação de todos os pensamentos
sigo o fumo como uma rota própria ...
carta aberta
Ninguém me encomendou o sermão, mas precisava de desabafar publicamente. Não posso mais com
tanta lição de economia, tanta megalomania, tão curta visão do que fomos, podemos e devemos ser
ainda, e tanta subserviência às mãos de uma Europa sem valores (...).
Torga ( Diário XVI)
a " portugalidade " na boca mercenária de um "guru" da gestão ruinosa :
" quem é sujo, suja o que diz " (Torga)
da república e da bandeira
O observador imparcial chega a uma conclusão inevitável: o país estaria preparado para a anarquia; para a República é que não estava.
(...)
Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos – porque estas contradições, que aliás o não são, existem na vida), gatunos com seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos, de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regime a que, por contraste com a Monarquia que o precedera, se decidiu chamar República.
(...)
A Monarquia havia desperdiçado, estúpida e imoralmente, os dinheiros públicos. O país, disse Dias Ferreira, era governado por quadrilhas de ladrões. E a República que veio multiplicou por qualquer coisa - concedamos generosamente que foi só por dois (e basta) - os escândalos financeiros da Monarquia.
A Monarquia, desagradando à Nação, e não saindo espontaneamente, criara um estado revolucionário. A República veio e criou dois ou três estados revolucionários.
(...)
A Monarquia não conseguira resolver o problema da ordem; a República instituiu a desordem múltipla.
(...)
E o regime está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados morais, nos serve de bandeira nacional – trapo contrário à heráldica e à estética porque duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode inventar em cor.
Está ali contudo a alma do republicanismo português – o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva de que por direito mental devem alimentar-se.
" Da República " Pessoa